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7 de fevereiro de 2013

“Os Miseráveis”: Um convite para olhar para baixo


O meu texto original foi publicado no Ambrosia, mas como ele foi feito as pressas e algumas coisas passaram batido na revisão do editor, eu resolvi reescreve-lo aqui no blog. 


Primeiro vamos esclarecer que o musical dirigido por Tom Hopper (O Discurso do Rei) não é uma adaptação fiel e direta do famoso romance do escritor francês Victor Hugo “Les Misérables” publicado em 1862. O filme é uma adaptação de um famoso musical da Broadway criado por Alain Boublil e Claude-Michel Schönberg.

O filme já ganhou 3 Globos de Ouro e ainda concorre a 8 Oscars. Mas se você não for fã de musicais, não vai aguentar nem os 10 primeiros minutos das 2h40 de pura cantoria e raros diálogos. Porém se for uma pessoa que ama musicais (como eu) vai adorar e vai torcer muito para que eles levem as estatuetas.

A história se passa na França do século XIX, entre os anos de 1815 e 1832, décadas seguintes a Revolução Francesa, e se baseia na vida de Jean Valjean (Hugh Jackman). Um homem que foi preso e condenado ao trabalho escravo por ter roubado um pão para dar de comer ao sobrinho. Condenado a 5 anos e com várias tentativas frustradas de fuga, sua pena aumenta para 19 anos.



Quando enfim ele é livre, descobre que tem carregará o estigma de um prisioneiro perigoso pelo resto de sua vida (o que não difere muito dos dias atuais) e ainda ter que fugir das perseguições do inspetor Javert (Russell Crowe).

Jean Valjean tenta, mas não consegue arrumar emprego e nem abrigo. Até que é amparado por um bispo (Colm Wilkinson). Só que Valjean não consegue mais acreditar na bondade das pessoas e antes do amanhecer foge com toda a prataria do bispo. Mas ele é capturado novamente e levado até o bispo que o encobre dizendo que foram presentes.



O ex-prisioneiro não entende muito bem o motivo de tudo aquilo, a amargura tinha tomado conta de sua alma e ele já não acreditava mais em redenção. Mas decide tentar uma nova vida e com outro nome. Tempos depois ele aparece como um bondoso prefeito e empresário de uma pequena cidade.

Na mesma época Javert se torna chefe de polícia da tal cidade e vai oferecer seus serviços ao prefeito. O policial não o reconhece de imediato, mas como tempo passa a desconfiar. Neste mesmo momento Fantine (Anne Hathaway), funcionaria da fabrica de Valjean é descoberta ser mãe solteira e por isso expulsa da fábrica pelo supervisor. Como tem que mandar dinheiro para os donos de uma estalagem que cuidam da sua filha, ela acaba se afundando sem ajuda nem compaixão ela vira prostituta e mora na rua.

As cenas são fortes e Anne Hathaway realmente se entregou ao personagem. No momento em que ela interpreta ”I Dreamed a Dream”, que ficou conhecida do público em geral pela interpretação de Susan Boyle, me emocionou demais. Ela foi perfeita!



Quando Fantine vai revidar a agressão de um homem que a humilha por ser prostituta, Javert aparece para prendê-la. Jean Valjean vem em seu socorro. Valjean descobre toda a história da moça e a leva para se tratar em um hospital. Depois promete achar e cuidar de sua filha.

No desenrolar da história Javert descobre a verdadeira história do prefeito e Valjean volta a ser um fugitivo. Quando ele encontra a filha de Fantine, chamada Cosette, percebe que os donos da estalagem são dois trapaceiros, o casal Thénardier (Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter) que para variar estão esquisitos e engraçados, proporcionando alguns dos momentos mais divertidos da trama e deixando-a um pouco mais leve.



Depois de comprar Cosette (Amanda Seyfried na juventude) do casal, Jean Valjean foge com a menina e cuida dela como a uma filha. O ex prisioneiro descobre então a vantagem de ter alguém ao seu lado, de ter uma companhia com quem conversar, cuidar, passear e caba depositando nela uma super proteção privando-a de muita coisa por medo de perde-la e de ter que ficar sozinho novamente.

Tempos depois os jovens militantes Éponine (Samantha Barks), Marius Pontmercy (Eddie Redmayne), Enjolras (Aaron Tveit) e Gavroche (Daniel Huttlestone) que acreditam na liberdade do seu povo tentam proclamar a república e eliminar a pobreza que assolava o país. Há ai uma critica muito grande ao momento monárquico e político que era vivido na época. Os jovens foram ás ruas, fazem barricadas e lutam pela real liberdade de seu povo. O pequeno Gavroche é um personagem apaixonante. São cenas comoventes.



Indiretamente em questão da batalha dos militantes com os guardas do rei, os personagens se reencontram. Neste momento Cosette (Amanda Seyfried) e Marius (Eddie Redmayne) se apaixonam e tentam ficar juntos apesar das batalhas e do protecionismo do pai adotivo da jovem. É um romance bobo e bem superestimado.

Jean Valjean percebe que não pode proteger a filha adotiva para sempre e decide ajuda-la, não quer que ela sofra e cuida de Maruis após a batalha. Quem também reaparece é o casal Thénardier, sabotando a todos os mortos na batalha e posteriormente interrompendo o casamento de Cosette e Marius.

Na batalha Jean Valjean salva a vida de Javert, este não entende o motivo de tal atitude, fica perturbado com ideias contraditórias. Pois ele crê na justiça e não e não existe nenhuma lei que diga que um prisioneiro tenha direito a redenção, muito menos nas questões cristãs. Um conflito interno que termina em suicídio.



Eu gosto muito da obra de Victor Hugo, pois ela discute problemas sociais como a pobreza e a miséria, a injustiça da justiça, a moral dos regulamentos, a degradação da mulher e a fé. São assuntos pesados que deixam em evidencia a ausência de compaixão, principalmente dos ricos.

Tom soube explorar tudo isso, e nos apresenta personagens que vivem intensamente na batalha por seus objetivos, alguns querem vingança, outros redenção, liberdade, amor, enriquecer, entre outros. O filme tem um cenário incrível que (aparentemente) retrata bem o submundo de Paris da época, um figurino fantástico, uma fotografia intimidante com muitos closes e claro as músicas.

Apesar de muita gente ter criticado as performances dos atores na cantoria, eu acho que todos conseguiram cumprir o seu papel lindamente. Temos que levar em consideração que neste longa os atores não gravaram as músicas e depois as dublaram em cena, foi tudo ao vivo. Os atores tinham apenas um ponto eletrônico em que um pianista lhes dava o tom.



Sou suspeita para falar de musicais mas a ideia de os atores cantarem ao vivo enquanto interpretavam dá mais emoção e faz com que o publico se sinta mais “intimo” do personagem. Por isso não me importei com o fato de algumas desafinadas. Mas repito, se você não gosta de musicais NÃO VÁ VER O FILME. rs

Vou terminar o meu texto com a mesma frase que o autor Victo Hugo termina o seu livro: “Enquanto a ignorância e a miséria persistirem sobre a terra, ainda haverá necessidade de livros como este”.