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19 de novembro de 2009

Zona Norte ilhada

Quem mora na região norte de São Paulo sabe muito bem do que estou falando.
Depois que o Kassab resolveu, na pior época, executar as obras de ampliação da Marginal Tietê para novas pistas o transito piorou consideravelmente.

A ideia é bem interessante, confesso, mas acho que ela deveria ser feita em outro momento. Durante a semana o trânsito está insuportável, eu demorava 15 minutos de ônibus da minha casa até o metrô Santana, hoje eu demoro 30 minutos. Isso quando não tenho que descer uns 2 pontos antes e ir andando por que a Cruzeiro do Sul está entupida e ninguém anda.

Imagino quem dirige, além de ter que fazer caminhos alternativos e sair bem mais cedo de casa, tem que se preparar psicologicamente. Afinal ele não é o único que busca uma alternativa e um meio de não ficar tanto tempo parado.

Mas isso não se resume apenas aos dias da semana. O pouco tempo que temos para nos divertir é agora muito menor, gastamos (acho eu) cerca de 60% ou mais do nosso tempo para poder chegar a algum ligar.

Se você quiser se divertir no final de semana tem que sair de casa com muita antecedência, não importa se você vai de carro, ônibus ou metrô. A Zona Norte está um caos completo, ruas cheias, metrôs lotados, ônibus lentos e por ai vai.

O pior é que isso vai durar até o ano que vem, mas duvido que as obras não vão atrasar. Estou pagando para ver com vai ser esse fim de ano.


Boa sorte para nós!!


=**

12 de novembro de 2009

Lamentações de todos os dias para sempre

De louco todo mundo tem um pouco e se não tem agora com certeza, no decorrer da idade ela chega. Costuma chegar sem pedir licença, não lhe deixa margem para escapatória, mas lhe dá a opção de ser cômico ou o famoso “chato de galocha”.

O nosso personagem Eulálio Montenegro d'Assumpção escolheu ser cômico, mesmo sendo um centenário doente em uma cama de hospital. A sua maior intenção é contar uma história, para as enfermeiras, para a filha ou para quem quiser ouvir.


Uma história sobre a sua árvore genealógica que tem como plano de fundo a história do Brasil, começando com o seu tataravô que era um barão do Império, passando pela república e indo até o seu tataraneto, um garotão do Rio de Janeiro atual.

Uma linhagem que pode ser comparada aos nossos queridos ‘José Acardio Buendia’ (100 anos de solidão – Gabriel Garcia Marques), onde os nomes além de serem passados para as gerações me parece que eles também carregam uma característica.

Impulsivos, machões, oportunistas e egocêntricos. Mas a vida de Eulálio foi, aparentemente, mais decadente. De uma família de classe alta, super importante e moradora de um chalé em Copacabana para uma família sem valores e que passa a morar no fundo de uma igreja evangélica, onde outrora foi um cemitério que está enterrado o seu avô.

“Pai rico, filho nobre, neto pobre.” (BUARQUE, 2009, p.18).

Toda essa narrativa vem de uma memória desfalecente que mesmo sendo repetitivo, confuso, embaralhado e cheio de ironias prende o leitor, cria dívidas e suspenses.

Paralelamente entramos nas memórias intimas do personagem. Que são apresentadas pelo autor através de temas relevantes ao comportamento humano: egoísmo, paixão, desejo, velhice, traição, rejeição, abandono, depressão, solidão, dentre outros.

Ele nos conta da vergonha que sentiu sobre a sua primeira ereção, sobre o pai corrupto e mulherengo, a mãe reservada e preconceituosa, a filha totalmente influenciável e também sobre a pessoa que ele mais amou na vida: Matilde.

“Porque ao nascer, ele é realmente um sentimento cortês, deve ser logo oferecido à mulher como uma rosa. Senão, no instante seguinte ele se fecha em repolho, e dentro dele todo o mal fermenta. O ciúme é então a espécie mais introvertida das invejas, e mordendo-se todo, põe-se a culpa na feiúra.” (BUARQUE, 2009, p. 62).

Um amor louco, possessivo, uma paixão avassaladora que transformou seu amor em dúvida, ciúme e egoísmo. Nisso encontramos outro personagem notável, Bento Santiago mais conhecido como Bentinho (Dom Casmurro – Machado de Assis).

Em “Dom Casmurro”, há a eterna dúvida sobre a fidelidade de Capitu, enquanto no livro de Chico Buarque a dúvida é o verdadeiro paradeiro de Matilde. Confesso que ainda estou com outras dúvidas sobre a Matilde, mas é ai que se constrói uma bela história.


“Mas se com a idade a gente dá para repetir certas histórias , não é por demência senil, é porque certas histórias não param de acontecer em nós até o fim da vida” (BUARQUE, 2009, p.184)





Resenha de "O leite derramado" do Chico Buarque

A dúvida eterna

No século XIX encontramos uma população no início de seus movimentos abolicionistas e republicanos, nas artes encontramos o surgimento do realismo. Neste contexto Machado de Assis lança em 1899 o livro Dom Casmurro, talvez o mais polêmico da época por passear pelo comportamento humano de forma simples e explicíta. Por não conseguir se livrar dos tormentos de seu passado Bento Santiago narra suas memórias com dualidade, onde ele retoma fatos do passado e os analisa no presente.

Quando tinha 15 anos descobriu que estava apaixonado por Capitu, sua amiga e vizinha, no momento em que José Dias, o agregado da família, lembrou Dona Glória, mãe de Bentinho, de que havia feito uma promessa de mandá-lo para o seminário. Bentinho ficou atordoado, foi conversar com Capitu e percebeu que também havia um interesse por parte dela quando num ato de ousadia a garota lhe roubou um beijo.

Assim ele se convenceu de que não queria ir para o seminário, então Capitu criou um plano para convencer José Dias a tirar esta idéia da cabeça de Dona Glória afirmando que o garoto não tinha vocação para ser padre. Mas infelizmente não deu certo.

Dentro do seminário Bentinho conhece Ezequiel Escobar que consegue achar uma solução para o seu problema; Substituí-lo por um garoto órfão, sem recursos para estudar e que seria bancado por Dona Glória. Então Bentinho vai estudar Direito, se casa com Capitu e Escobar que seguiu seus passos vira comerciante e casa-se com Sacha, a melhor amiga de Capitu. Mesmo formado e atuante na área, Bentinho se sente inseguro diante de uma mulher que cada vez mais se mostra forte e cheia de atitude, além de sentir um ciúme imenso dela com o seu melhor amigo.

Passado algum tempo Sacha engravida e batiza a sua filha de Capitolina, pouco tempo depois Capitu dá a luz a Escobar, ambos em homenagem. Com isso a insegurança de Bentinho aumenta pois acreditava em uma semelhança física e de atitudes entre os dois. Com a morte de Escobar o imaginário ciumento de Bentinho não consegue entender o por que de sua mulher estar sofrendo tanto, ele passa então por um mar de sentimentos confusos e começa a acreditar fielmente na traição.

Bentinho então envenena uma xícara de café e pensa em beber, mas dominado pelo ódio ele tenta dar o café ao filho que não aceita. Chorando muito ele abraça o garoto e diz que não é o seu pai, Capitu escuta e decide pela separação. Quando Capitu falece Bentinho fica muito chateado, mas quando o filho morre ele comemora pois acha que acabou a traição com a sua última prova.

Durante a narrativa o autor faz uma comparação com a peça Otelo de Shakespeare, abrindo assim um leque de possibilidades. Pois Desdêmona, esposa de Otelo, foi assassinada pelo marido por uma traição que não aconteceu. Em Dom Casmurro existem personagem que são bons e ruins ao mesmo tempo. Se a traição de Capitu realmente aconteceu nos não sabemos, pois o narrador é a única testemunha dos fatos, Capitu não tem advogado de defesa e Escobar morre subtamente.

Nesta história o leitor é o Júri. Então, qual o seu veredito?



Resenha sobre o livro: Dom Casmurro